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terça-feira, dezembro 22, 2009

COLIFORMES FECAIS, A CONSTATAÇÃO

Ao ouvir as palavras do Presidente Lula no dia 10 de dezembro de 2009 na cidade de São Luís/MA, ao discursar a multidão durante a cerimônia de lançamento do programa “Minha Casa, Minha Vida” quando usou termos chulos ao dizer, “eu não quero saber se o João Castelo é do PSDB, eu não quero saber se o outro é do PFL, eu não quero saber se é do PT. Eu quero saber se o povo está na merda, eu quero tirar o povo da merda em que ele se encontra. Esse é o dado concreto”. Ao ouvir tamanha ignomínia vernacular, veio à memória uma experiência vivida numa hidroviagem realizada no mês de fevereiro de 2007 no trecho marítimo de Belém à Manaus. Viajava no Navio Motor Clívia, fabricado no ano de 1911 com toda a estrutura em ferro, dotado de três pavimentos para passageiros e porão para cargas. No terceiro convés está instalada a pequena sala de comando e mais dezesseis minúsculos camarotes com ar-condicionado central. Este convés possui minúsculo banheiro e sanitário coletivo, ambiente úmido, fétido e nauseabundo, e sem tratamento dos excrementos humanos que são jogados diretamente no rio; um bar conjugado a uma área de lazer com cadeiras e mesas, onde imaginei que poderia fazer as leituras de livros que conduzia e extasiar-me com o existencial e belo reino das águas. Ledo engano, o bar que funcionava das 08h00 às 22h00 lotado de passageiros, inebriados por músicas de péssimo gosto musical e com volume acima de 80 decibéis, que não permitia de lugar algum apreciar o silêncio da natureza. As músicas com letras de forte apelo emocional, do conhecido canto chorado e amor fracassado, as letras de duplo sentido. No segundo convés mais seis camarotes e dezenas de redes instaladas, coladas umas nas outras. No primeiro convés instalado mais dezenas de redes, um banheiro e sanitário coletivo que atendia os dois pavimentos, o acesso à casa de máquinas, um minúsculo refeitório que atendia a todos os passageiros, e a cozinha, ambientes dominados pelo excessivo e intermitente ruído dos motores. No refeitório, a presença de animais domésticos enjaulados durante os cinco dias de viagem e sem a mínima higienização, transformando o lugar num ambiente barulhento e fétido. No porão, enorme quantidade de gêneros alimentícios, máquinas, móveis, gases, materiais de construção e equipamentos. A convivência com garimpeiros, seringueiros, caboclos, índios, contadores de histórias, prostitutas, mentirosos e aventureiros, desenvolveu-se de forma amistosa e cordial, mostrou-me a riqueza desses tipos humanos, cidadãos brasileiros que vivem a margem dos direitos constantes em nossa Carta Constitucional e entregues a própria sorte, ao flutuarem nos rios, na subida e descida das águas, e recebendo um tratamento humilhante. Causou-me perplexão o comportamento silencioso dos passageiros que demonstravam aceitar passivamente aquela prestação de serviços, possivelmente por não vislumbrarem outra realidade, contentando-se com o destino e como único meio e fim de suas vidas. Ao fazer uma auto-análise percebi minha semelhança com aqueles irmãos amazônidas, senti na pele como é ser tratado como se fôssemos a raia miúda a plebe rude. Naquele ambiente encontravam-se todos os Movimentos Sociais, dos sem terras, aos sem tetos, vitórias, sem esperanças, escolas, trabalho digno, e sem saúde. Como constatação da enorme carência de educação doméstica e cultura ambiental, lançavam ao rio Amazonas por sobre a balaustrada, todo o lixo da sociedade de consumo, desde as latas de bebidas, sacos e garrafas plásticas, a embalagens de balas e chocolates. Ao ver estas cenas que a princípio causaram-me enorme indignação, perguntei. Quando seremos tratados com palavras e ações dignas e deixaremos de beber água poluída por lixo e dejetos humanos?

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